29/04/97
Revoltado com a decisão da Justiça, que suspendeu o leilão da Vale inicialmente marcado pra hoje, o governo imperial mandou descer o sarrafo no povo! E mandou ontem à noite mesmo, assim que soube da notícia.
"Isto é um absurdo!", urrou o imperador. E continuou: "Como o Judiciário ousa intrometer-se em assuntos de minha exclusiva competência? Só por causa disso, vou mandar descer o cacete!" (Para que você entenda bem, tenho que dizer que o cacete real estava de pé naquele instante; talvez excitado com a grande sacanagem que é a entrega da Vale).
A guarda imperial foi chamada, com o objetivo de dissolver a multidão que aguardava o fracassado leilão em frente ao prédio da Bolsa. Mas não pense que eles jogaram soda cáustica nas pessoas, não foi nada disso. Tudo correu sem violência, é claro; só usaram cacetetes, bombas e outras coisas de efeito moral, como dedadas.
Os manifestantes, que estavam ali pacificamente, só tiveram tempo de correr e gritar . "Segurucu!", berrou um deles! Os outros pensaram que era uma prévia do Carnaval de Olinda, e caíram no frevo. Só que não era o famoso bloco que estava chegando, e sim a gentil GIF (Guarda Imperial Foderosa), que - a exemplo da Internet - também existe em versão animada. Doidona pra dar porrada.
"Não vai ter mais leilão. Portanto, a senhora me desculpe, vou ter que dar-lhe uma dedada", disse um, já metendo (educadamente, pois não?) o dedo na bunda de uma velhinha que estava por lá. "Por que não vai dar dedada na sua mãe?" reclamou a coitada. "Se ela estivesse aqui, eu dava", disse ele com convicção, para depois despedir-se da pobre velhinha: "Volte sempre. Recomendações aos seus!" A velha, humilhada e chorando de soluçar, ainda teve forças pra gritar: "Vai tomar no fiofó, seu fela!". Indignado, o guarda pensou: "Não dá pra ser educado com essa gente!...".
O saldo da Operação Derrete-Multidão foi o seguinte: do lado dos manifestantes, 357 costelas quebradas, três dentaduras perdidas, várias cuecas rasgadas e caco de cu pra todo lado. Do outro lado, só mesmo um arranhão num dos cacetetes. O dono do objeto de prazer desculpou-se com o chefe da operação: "Foi sem querer, chefe. Na hora que em eu girei o cacetete no ar, veio um sujeito e tentou morder. Por isso arranhou." De nada adiantou a desculpa, e ele foi repreendido severamente: "Como você fez uma coisa dessas? Tenha mais cuidado da próxima vez! Agora vai ter que comprar um cacetete novo, que é pra aprender a ter cuidado com ele!".
Entregar o ouro ao bandido, vale; protestar pacificamente, não vale. Está contra o imperador? Tome cacete! Isso é que é democracia!...
Eu acho o imperador Fernando II muito parecido com Figueiredo. Um mandou a gente esquecer o que ele havia escrito; o outro mandou a gente esquecer dele próprio. Um prendia e arrebentava quem fosse contra a abertura política; o outro arrebenta quem for contra o arreganhamento econômico. São ou não são parecidos?
Abu Zadim
