22/04/97


Tudo por dinheiro

O futebol de Pernambuco não é o pior do Brasil, mas é o mais ridículo. A fórmula de disputa do campeonato de 97 foi feita pra gente rir. Dela, e dos bestas que pagam caro pra ver tanto perna-de-pau correndo - e tropeçando - atrás de uma bola. Senão, vejamos (desculpe, mas eu adoro senão, vejamos):

O campeonato tem dois turnos, cada um deles dividido em duas fases. A disputa da primeira fase do primeiro turno é assim: são duas chaves, e os times de um jogam com os da outra. Os vencedores de cada chave decidem a fase do turno, e os seis primeiros vão para a segunda fase - que é disputada num hexagonal. (Faça uma forcinha que dá pra entender).

O hexagonal é que é a gréia maior: são duas chaves de três times. Como são duas chaves, a gente poderia pensar que os times de uma chave jogariam com os da outra, mas não é. Nem os times de uma chave jogam entre si. Não me pergunte, então, pra que dividir em duas chaves, que eu não sei. Mas que é engraçado, é...

A gréia não pára por aí: o primeiro colocado de uma chave decide a segunda fase do primeiro turno com o primeiro colocado da outra chave. Há a possibilidade de (acredite!) um time fazer mais pontos que o outro e ficar de fora da ridícula "decisão da segunda fase do primeiro turno". E isso aconteceu: o Náutico (sempre ele...) terminou o hexagonal em segundo - na sua chave e no geral - com 10 pontos. O Recife, que teve 9, foi o primeiro da chave dele e, mesmo sem fazer mais pontos do que o Náutico no total, decidiu com o Sport - que fez 11 pontos e deveria ser o legítimo campeão do hexagonal. Mas não foi. O Recife foi quem ganhou.

O Recife ganhou do Sport. Ganhou e foi campeão da segunda fase do primeiro turno. Grande bosta, coitado... isso nem valeu nada! Agora vem a gréia insuperável: como se tantos jogos medíocres não fossem suficientes pra encher a paciência do torcedor, a decisão do primeiro turno será em dois jogos. Tem que ter um saco de aço inoxidável - ou uma ingenuidade forrestgumpiana - pra fazer papel de otário e ir assistir aos jogos (finalmente) decisivos do primeiro turno.

Os organizadores fazem isso porque ainda tem quem vá aos estádios. Chamar esse campeonato de caça-níqueis é pouco. Talvez caça-otários ou pega-besta fosse melhor. Nunca vi tanto jogo desnecessário, em busca de uns trocadinhos a mais. Mas parece que não está dando muito certo... enquanto na Bahia dá 70 mil num Ba-Vi, em Pernambuco um Sport e Santa dá pra se ver deitado na arquibancada, sem esbarrar em ninguém...

Só não se fala muito dessa papagaiada porque ninguém fala sobre o futebol de Pernambuco, mesmo. Ô campeonatozinho merdel, esse... Se alguém descobrir isso lá em São Paulo... vai ser gozação pro resto do milênio! Mas eu é que não vou contar...

Se ganhar, eu danço nu!

Bem feito pra esses cartolas que inventaram essa fórmula ridícula: o Recife, a sensação do campeonato, está nas finais (são duas, lembra?) do primeiro turno. Bem feito pro Náutico que, se era pra ter decisão do hexagonal, devia ser o "decidinte". Bem feito pro Sport também, que viu o Recife ganhar um hexagonal que era seu por justiça, e ainda deixou de pegar o Náutico, aquela barbada...

O Recife, uma das poucas coisas agradáveis dessa gréia toda, é o tampa de crush do campeonato: já deu de 3x1 no Náutico, de 4x0 no Santa Cruz (aí, Parmalat, esse leitinho azedou...) e agora deu uma lapada de 2x0 no Sport, na decisão da segunda fase do primeiro turno. Mas ganhar o turno, isso eu duvido. Mesmo não tendo sido uma grande "armação" essa vitória sobre o Sport, eu duvido que o Recife repita aquele banho de bola nas decisões (são duas, lembra?) do primeiro turno, contra o Sport. Se ele ganhar o turno, eu danço nu! E se for campeão pernambucano, eu tiro uma foto vestido de drag queen e boto na página principal da Gréia. Promessa feita!


Eu, que não fui a nenhum jogo do Campeonato Pernambucano de 96, só voltarei aos estádios se o Náutico estiver no Heptagonal Decisivo Dos Ganhadores de Fases e Turnos Para Ver Quem Finalmente Ganha essa Bosta de Campeonato, que terá quarenta e dois jogos disputados em sistema de ida e volta.

Abu Zadim


A GRÉIA
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