Abu Zadim conta a história do MSR (Movimento dos Sem-Rede), em gréia feita especialmente para o jornal Blocos.

A verdadeira história dos sem-rede

Recife, 29 de fevereiro de 1996. A GRÉIA sofre sérias ameaças do MSR (Movimento dos Internautas Brasileiros Sem-Rede). Sob forte tensão emocional, Abu Zadim tem uma disenteria de "fundo" nervoso e passa horas na privada. Paralisado pelo terror e literalmente borrado, ele resolve ceder às pressões do ultra-radical MSR. Bem, essa foi a versão oficial dos fatos, divulgada pela mídia. Estes fatos foram distorcidos e a opinião pública foi manipulada; tudo para tentar desmoralizar os sem-rede e fazê-los passar por marginais. Mas a verdadeira história foi um pouco diferente...

Voltemos a outubro de 1995, quando foi publicado o primeiro número de A GRÉIA, naquela época ainda não internetizada. Abu Zadim botava suas gréias no papel, e os amigos mais próximos - únicos leitores de então - liam A GRÉIA e também greavam para cacete. Tudo era uma imensa gréia, até que começaram os problemas: muita gente começou a ler A GRÉIA, que ficou sendo muito solicitada. Abu Zadim não tinha onde imprimir tanta Gréia, e apelou para a xerox. Também não foi suficiente. Até que a sua irmã (a dele, não a sua), Toddy Zadim, internauta experiente, resolveu presenteá-lo com uma edição internética de A GRÉIA, que passava a ser o primeiro jornal greante, peiticante e caviloso de Pernambuco - e também do Brasil - na Internet. Seguindo as tradições pernambucanas, A GRÉIA agora era "Pernambuco greando para o mundo!".

Logo a danadinha começou a ser bem visitada, e Abu Zadim passou a escrever com mais freqüência. A GRÉIA 3 da Internet até saiu com algumas coisinhas a mais do que a edição impressa. Foi o bastante pra aumentar a ciumeira dos agora quase ex-amigos. Sentindo-se traídos, eles decidiram protestar contra a discriminação. Abu Zadim agora "só queria saber de Internet", e não dava ouvidos aos protestos do povo. Indignados por não ter acesso à Grande Rede, esses indivíduos nada mais fizeram do que lutar por seus direitos. O acesso à rede deveria ser democratizado, e teve então início o famoso e legítimo Movimento dos Sem-Rede.

Os integrantes do MSR tinham vários motivos para seguir com a sua luta: "Tem tanta gente com acesso improdutivo, usando a rede pra ver foto de putaria, e a gente quer grear e não pode", reclamavam as irmãs siamesas Tuxa e Fuxa. "E não é mesmo? Tem sujeito que gasta horas ocupando a linha telefônica, só na masturbação ideológica", afirmou Zeca Cinco a Um, que completou: "A gente não tem rede, e não é justo que também não tenha acesso à informação. Já que o governo não faz a reforma "redária", vamos invadir a redação dessa Gréia!". E foi o que aconteceu. Chegando lá, os integrantes do MSR não fizeram terrorismo nenhum. Apenas ameaçaram contar pra todo mundo que Abu Zadim também fôra um sem-rede, e agora que gozava com a rede dos outros, renegava o seu passado. Ele nem ligou, e aí a turma apelou: "Ah, é? Pois então a gente vai fazer você ouvir 48 horas seguidas de Segura o Tchan!". Diante de tal ameaça, para ele tão grave quanto uma ameaça de morte, Abu Zadim nem pensou duas vezes: Arrependeu-se dos seus pecados, e antes que fosse para o purgatório musical, prometeu que nunca mais ia desprezar os velhos leitores da Gréia do papel. No mesmo instante refez A GRÉIA impressa, deixando-a igualzinha à da rede. Para nunca mais cometer tais deslizes...

A verdadeira história dos sem-rede precisava ser contada. Desprezados e sacaneados pela grande imprensa, não queremos entrar para a história como pessoas irresponsáveis e violentas. Na verdade a gente só sacaneia um pouquinho, de vez em quando, botando pra tocar "A Boquinha da Garrafa", na maior altura, nos carros de som que ajudam a divulgar o MSR. Afinal, ninguém é santinho...

Felipe Holder, líder dos sem-rede, é também o lado B da dupla personalidade de Abu Zadim.