300 ANOS DEPOIS, OLINDA É NOVAMENTE INVADIDA!

(Do repórter de guerra e espião pernambucano, Mateus do Mangue)

Olinda, 16 de fevereiro de 1999

Depois de anos resistindo como bastião da cultura popular pernambucana, Olinda capitulou frente às hostes inimigas nestes dias de folia momesca.

Mais de trezentos anos depois da invasão holandesa, Olinda é novamente invadida, dominada e arrasada pelos de outras paragens. Dotados de armas com tecnologia de última geração no intuito da idiotização e imbecilização, como as ultra-modernas "Dança do Vampiro" e "É o Tchan no Havaí", eis que a Marim se rende ao invasor.

A invasão se deu não sem luta. Os bravos frevistas pernambucanos bem que tentaram, mas seus batalhões de sopro e metais nada puderam contra a força das caixas de som de milhares de watts de potência. As passistas tentaram se impor através da agilidade do seu bailado, herdado da capoeira, mas as "danças do não-sei-que", apoiadas na retaguarda por milhares de seguidores subjugou nossas conterrâneas.

Os destacamentos de Pau e Corda, tão belos nos seus movimentos pelas ladeiras de Olinda, já não representam mais resistência ao invasor. Os bravos lanceiros do Maracatu Rural já não executam seus rituais de folia. As la-ursas são exemplo de animal da fauna pernambucana em dias de Momo extinto pelo invasor.

O mais impressionante é a quantidade de Calabares presentes em solo olindense. A despeito do esforço realizado por nossos heróis frevistas, eles se aliam ao invasor e já executam toda a ordem-unida das suas danças, numa demonstração impressionante de falta de criatividade, como se para dançar bem, precisassemos todos dançar iguaizinhos, marchando como soldados. A anarquia do frevo subjugou-se.

Mas, como em tempos de outras invasões, Pernambuco não se rende! Muito menos sua Cultura. Assim como nossos antepassados se retiraram para o interior, fundando os Arraiais Velho e Novo do Bom Jesus, hoje o Bom Jesus de novo acolhe os pernambucanos. A antiga Rua dos Judeus é palco das demonstrações de resistência e beleza de nosso povo. Lá desfilam lindos nossos blocos, troças, maracatus e caboclos. Lá os heróis executam os milhares de passos do frevo, os metais vibram em uníssono e a Cidade Maurícia se prepara para a reconquista da vizinha irmã. Por certo, do seio de nossos blocos sairá um Vidal de Negreiros, de nossos maracatus surgirá um Fernandes Vieira e dos caboclinhos teremos um Felipe Camarão e assim triunfaremos de novo!

Pernambuco Imortal, Imortal!!!

Mateus do Mangue





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