DANDO O BOOT
24-02-2000

Cuidado com o cooler

Dona Ivete acaba de tomar o café da manhã. Ainda está de camisola quando tocam na campainha. Ela vai atender assim mesmo. Vai que é o rapaz da água mineral...

— Bom dia dona Ivete! Sou Luís, da Compobrema. Vim ver o seu computador.

— Ah, sim! Pode entrar.

— O que é que o seu micro tem?

— De vez em quando ele trava. Vamos lá no quarto que eu mostro. — E dona Ivete vai na frente, balançando sensualmente seu enorme (e até muito jeitosinho, justiça se faça) traseiro.

E lá se foi Luís atrás dela. Tão preocupado com o trabalho que a última coisa em que prestaria atenção era na bunda de dona Ivete. Trinta e sete rebolados depois, eles chegam ao quarto.

— Dona Ivete, seu micro apresenta mais algum problema?

— Dona não, Luís. Só Ivete. Por favor.

— Desculpe, dona Ivete. Quer dizer... desculpe... dona... não... Ivete!

— Ele apresenta outro defeito, sim! Tá esquentando muito.

— Onde exatamente?

— Aqui no fundo. Venha ver. — E dona Ivete (aliás, Ivete), de costas pra ele, se debruçou sobre a mesinha para mostrar o local exato onde micro esquentava.

— Ah, é aí? — E o pobre Luís, muito competente, honesto e sobretudo absurdamente desligado, foi logo se apressando em dar o diagnóstico. Que era pra dona (dona, não) Ivete saber que ele não estava ali para explorá-la.

— Olhe, daqui eu já estou vendo que o problema é o seu cooler.

A mulher arregalou os olhos e perguntou espantada:

— O quê?

— O seu cooler. O seu cooler está com problema.

— E você ainda repete? Me respeite rapaz! Não é porque eu moro sozinha que você pode fazer isso comigo! Eu sou mulher mas sei me defender! Eu vou ligar pro seu patrão! Vou contar tudinho! Eu vou ligar pro Linha Aberta! Eu não sou uma qualquer não! Vou chamar o meu filho! Vou chamar a polícia!

Assustado — e antes que a doida da Ivete se lembrasse de chamar o zelador — o pobre Luís saiu dali em disparada. Nem esperou o elevador, foi pela escada mesmo, pulando de cinco em cinco degraus enquanto lhe caíam do bolso a caneta, a lapiseira e um monte de moedas. Da calçada do edifício ele ainda podia ouvir os berros de dona Ivete, o que o fez pegar o primeiro táxi que passou e pedir pra ir pra bem longe dali o mais rápido possível.

Lá em cima, no terceiro andar, Ivete ainda esbravejava. Estava irritada, revoltada, indignada. E até com uma certa razão. Afinal, jamais alguém havia ousado dizer que o seu belíssimo cooler tinha algum problema.


Abu Zadim é editor-geral de A Gréia