DANDO O BOOT
14-09-2000
O cartão e o rego

Essa é uma história real, vivida há alguns anos por um amigo meu, e serve pra gente ter uma idéia da influência que esse mundo informatizado pode exercer sobre a cabecinha inocente de uma criança.

Célio e seu filho Júnior estavam bem na frente de um quiosque do Banco 24 horas quando tudo começou:

— Pai, deixa eu passar o cartão?
— Não, menino. Eu passo.
— Ah, deixa, vai...
— Não, menino! Eu já disse que eu passo! Isso não é coisa pra criança!

Tristonho, Júnior viu o pai passar o cartão, abrir a porta daquela casinha engraçada, depois enfiar o cartão numa frestazinha, digitar uns números lá e por fim pegar um dinheiro que saiu de outra brechinha daquele enorme painel cheio de luzes e teclas coloridas. Na saída, ele arriscou mais uma vez:

— Vai, papai, deixa eu passar o cartão agora!
— Ah, não enche, menino! Já disse que isso não é brincadeira! E nós já estamos indo embora, de outra vez papai deixa.

E Júnior ficou aguardando, ansioso, o dia em que ele passaria o seu próprio cartão e abriria a porta daquele lugar tão estranho e bonito.

Tempos depois, lá estavam Célio e Júnior tomando banho juntos. Já no final do banho, pra lavar melhor a sola do pé, Célio se põe numa perna só. Atrás dele está Júnior, que ao ver aquele bundão enorme na sua frente não resiste: junta os dedinhos da mão direita (geladinha por causa da água fria) e passa bem no rego da bunda do pai. Num movimento rápido e preciso, leva os dedinhos desde o finzinho do saco até o comecinho do rego — que, como todo rego, começa bem no finzinho da coluna.

Célio, ainda numa perna só, toma um susto tão grande que quase cai. E grita, furioso:

— O que é isso, menino?

E já se prepara pra lhe dar aquele catiripapo no toitiço quando Júnior, inocente, sorridente e agora satisfeito, responde na maior alegria:

— Passei o meu cartão!

Abu Zadim é editor-geral de A Gréia