DANDO O BOOT
03-05-2001

Computador vai sentir cheiro!

Há uns três anos mais ou menos eu li uma reportagem que me deixou muito ansioso: "Computadores vão ser capazes de sentir cheiro", era o título da empolgante matéria, que trazia depoimentos de pesquisadores entusiasmadíssimos. Desde então, tenho procurado mais notícias sobre a grande descoberta, mas até agora nada. Três anos e nada de novidade. O que eles estariam esperando?

Não sei o motivo de tanta demora, mas suponho que tenham deixado o projeto de lado. Sim, devem tê-lo abandonado porque não há nenhuma grande vantagem, nenhuma aplicação prática nisso. Ou pelo menos nada que valha um grande investimento em pesquisa — a não ser que se considere de grande relevância para a humanidade o fato de poder identificar o dono de um peidinho despretensioso (mas muitas vezes devastador) dado em ambientes fechados. Aí sim! Como ninguém quer ser descoberto, um computador capaz de sentir cheiro — o grande irmão farejador — seria de grande utilidade. Essa esculhambação nos teatros, cinemas, ônibus e elevadores finalmente iria se acabar.

Por outro lado, algumas injustiças poderiam ser cometidas por causa dessa nova "habilidade" dos computadores. Em setembro de 1998, pouco depois de eu ter tomado conhecimento da pesquisa sobre o olfato eletrônico, o Jornal do Commercio publicou uma reportagem intitulada "A vulva tem 2.200 cheiros". Logo pensei: tendo um computador para identificar os cheiros de maneira muito mais rápida, precisa — e sobretudo discreta —, por que usar gente? Hoje, porém, penso diferente. E o pobre do pesquisador, coitado? Seria simplesmente dispensado? Obrigado a trabalhar noutra atividade? Teria que abrir mão de sua inestimável (e pra lá de excitante) contribuição à ciência só porque chegou um computador metido a besta para tomar o lugar dele? Que injustiça!

É por essas e outras que tanta gente implica com a evolução tecnológica. A substituição do homem pela máquina nem sempre é a melhor solução. O prazer que nós sentimos pelo trabalho tem que ser levado em consideração! Fosse eu o tal pesquisador, a confusão estaria formada: a vaca podia tossir, a galinha criar dentes, mas não tinha quem fizesse eu largar essa pesquisa! :)

Abu Zadim, editor-geral de A Gréia,
também é conhecido como Cheira-cheira.