DANDO O BOOT
01-03-2001

Pernambuco - Carnaval de código aberto

Assistindo ao desfile do Galo, lá de cima daquelas estruturas de ferro da ponte da Boa Vista, fiquei pensado nessa velha rixa de carnaval entre Pernambuco e Bahia. A questão não deveria ser sobre qual o melhor carnaval (ambos são muito bons), e sim sobre qual aquele em que a população pode brincar melhor — o que não é a mesma coisa.

Enquanto na Bahia é preciso pagar pra brincar nos blocos, em Pernambuco a diversão é de graça. O carnaval de Salvador é bem diferente do Carnaval de Recife e Olinda. Na Bahia o que há é um carnaval essencialmente comercial, que visa o lucro e onde só brinca bem que tem dinheiro. É preciso pagar pela licença (ou abadá) para brincar num bloco, como se paga para usar o Microsoft Office. Quem não paga fica de fora, só pirateando; se tentar furar o cerco é expulso pelos seguranças — que podem ser do bloco ou do direito autoral.

Já o carnaval de Pernambuco é como o software livre, de código aberto. É de graça, todo mundo pode usar, e na maioria das vezes é melhor do que aqueles pelos quais se paga. Talvez por isso tanta gente ache melhor. Aqui o objetivo não é o lucro; ter ou não ter como pagar não é fundamental. O importante é garantir que todos tenham acesso à cultura e ao lazer. O carnaval de Pernambuco — assim como o software gratuito — funciona como instrumento da cidadania.

O que se paga por um abadá me parece tão absurdo quanto o que se paga por uma licença do Microsoft Office. Muitos dos que ainda pagam pelo Office, o fazem por não saber que existe (ou como usar) o StarOffice. Pagar pra escutar a "Bomba"? Há quem pague. Provavelmente por não saber que é possível ir atrás do Galo, de Pitombeiras, do Elefante e do Eu Acho É Pouco sem gastar um tostão.

É tudo uma questão de ponto de vista. E de opção.

Abu Zadim, editor-geral de A Gréia,
é apaixonado por frevo, maracatu, caboclinho e também por Recife e Olinda